sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cinco razões para detestar ser policial militar

Razão UM: Queria Deus que eu esteja errado! A pior parte de ser da polícia militar é o militarismo. Em parte porque esse traço sempre representou uma arma contra o próprio militar. O militar é contra tudo e todos, o que não o libera de ser contra si mesmo ou contra seus semelhantes. Nada mais contraditório do que servir ao Estado e tê-lo contra você. Em toda a História da humanidade, não há um único exemplo em que ‘o militar’ tenha agido e não tenha pecado de alguma forma, pelo excesso ou pela falta. A farda tem uma simbologia singularmente paradoxal. É um misto de controle ao outro e autocontrole. O protesto alheio é reprimido pela força policial em defesa do Estado, e este invalida as ações da polícia com base na Lei e contra a própria polícia, que é quem é responsável por fazê-la cumprir; talvez seja essa a razão de o militar não ter vez com o governo. E muito se ouve que o poste não pode fazer xixi no cachorro. E o militarismo amordaça o militar e dilui nele a democracia e – por vezes até – o trancafia atrás das grades como um meliante. O militar tem dois fardos a carregar, a hierarquia e a disciplina.

Razão DOIS:
o povo. A relação da polícia com o povo é como uma faca de dois gumes. Alguém sempre sai perdendo nesse embate. Em meio à população, há de tudo: pais de família, trabalhadores, homens de bem, pessoas de boa índole, estudantes, menores, grupos vulneráveis, doentes e incapazes, e os que reúnem um pouquinho de tudo. Ao que parece, só não tem bandido. Todos, na intenção de demonstrar sua indignação, gritam aos quatros cantos do mundo que não são isto, não são aquilo ou que são assim ou daquele jeito. À polícia cabe a ação. E, se ela não age, erra pois foi chamada para agir e, se não ia fazer nada, para que foi até lá(?); se age, erra também porque exagera. Se não ia dar flores, também não precisava ser grosseiro(!). É chamada para controlar. E quando controla, aparecem especialistas de todas as brechas para criticar. O povo está quase sempre contra, pois é do seu meio que provém toda a mazela da vivência humana. E, quem quer ser a mazela? Quem admite ser pai, mãe de uma ou ser a materialização da mazela? Quem quer ser a ‘pessoalização’ do que é ruim no meio social? Daí a se compreender o porquê da relação pífia entre polícia e sociedade...

Razão TRÊS:
a justiça. Povo, Estado e justiça estão sempre aliados contra a polícia. O judiciário é quase inócuo quando o assunto é o direito do policial nas situações-problema geradas pelo serviço. Não há apoio. Não é feito o mínimo para compreender que quem está em desvantagem no confronto armado contra o crime organizado é o agente, porque tem muito a perder e deve esperar o primeiro tiro (que pode ser fatal) para contra-atacar.
O povo e o Estado vivem uma relação de amor e ódio. Um mendigando o que lhe é de direito e penando socialmente, e o outro se omitindo quanto ao cumprimento de suas obrigações, das leis que cria para ludibriar o cidadão, desconsiderando sua necessidade.
O que dizer da Constituição? A justiça, assim como o Estado, depende da polícia para ter suas ações legitimadas; ações judiciais e estatais seriam validadas frente ao povo por quem, senão pela força policial? Porém, nem juiz nem governador veem isso, e – se veem – fingem não ver. Há muito, a polícia não tem o respeito da população, jamais teve do Estado, porque patrão não respeita empregado nem justiça nenhuma comunga com ela. É uma relação triangular contraditória e injusta e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco; neste caso, de quem não pode se manifestar porque contraria o regimento.

Razão QUATRO: Os Direitos Humanos. Policial militar é militar, não é humano. Quando começa a vida de militar ainda aluno-recruta, é tratado por bicho. Na intenção de recrudescer a ‘pessoa civil’ para torná-lo ‘um militar de verdade’, o treinamento beira a inconsequência desumana; são pressões psicológicas, situações de estresse físico, humilhações e outras torpezas, buscando preparar o recruta para a vida a pronto, para poder estar frente a frente com o perigo e não amarelar nem colar as placas. O que resulta disso tudo, em alguns casos, se vê pelas ruas e nos noticiários. O militar passa a não ser humano e a viver entre eles. Talvez seja por esse motivo que quando um deles é trucidado, faz-se o enterro, dá-se uma salva de tiros e se põe a farda em outro. Muitas vezes a morte de um agente passa em branco.
O jornalismo não acha interessante relatar o fato de um qualquer fardado e a serviço do Estado (recebe para isso) ser assassinado, às vezes com requintes de crueldade, e os Direito Humanos jamais se manifestam. Entretanto, se morre um vagabundo, viciado, traficante, ladrão ou assassino, esse logo vira estudante, e o policial bandido fardado. Os Direitos Humanos se põem na defesa do ‘ser humano’, o povo julga a polícia e os juízes batem em seus birôs e proferem falas do alto de suas magistraturas impecavelmente incorruptíveis e condenam a instituição à desmoralização.

Quinta e última razão (para não entristecer mais): a valorização. Quanto vale a vida de um juiz? A de um professor? Quanto vale a de um trabalhador da indústria petrolífera, que corre perigo constante de acidente? Quanto valem a saúde e a vida de quem trabalha com radiação e outros produtos químicos? Quanto vale a vida de um político, de um gerente de banco? E a de um policial militar? É certo que definir valor para a vida de quem quer que seja é impossível. É certo também que cada um tem sua parcela de colaboração na construção de uma sociedade justa e ambiente habitável. Mas, o que justifica um juiz ganhar infinitamente mais que um professor? A partir desse questionamento surgirão muitas respostas nas cabeças de todos, que se explicarão com base em fatores como formação, cargo, investimento e etc. Mas, o que justifica tal disparidade? Um juiz é graduado, é doutor, estuda muito e sua educação escolástica teve origem numa escola, reduto do professor, que também é graduado, doutor, estuda muito, lida na relação interpessoal com o alunado e forma cidadãos. O que o faz inferior? Por que um professor pós-doutor (e que forma juizes) não ganha metade do que um juiz?

No juramento de formatura da polícia, o agente diz defender a sociedade ainda que com o sacrifício da própria vida. Quanto vale esse sacrifício? Um juiz se sacrificaria pelo salário que ganha? E os políticos, se tivessem que morrer em nome do benefício popular, assim o fariam? A valorização da força policial tem que começar na própria instituição, o comando tem que se ater a PESSOA do militar e não com o vinco da farda ou a cobertura. Isso é secundário. A valorização pelo estado e pela justiça é utópica, mas seria a ideal. O povo? Esse nunca vai valorizar quem o reprime. Se alguém invade sua privacidade, logo pensa na ajuda policial; a polícia – nesse instante – é tudo que ela mais precisava. Se protesta, e o governo convoca a polícia; aí o diabo vira anjo e os praças, diabos. E se tornam as mais repugnantes criaturas do mundo. Em suma, o serviço policial é em si contraditório e nunca se ajustarão as relações entre Estado, povo e polícia. A base da valorização do trabalhador é um bom salário, que faça valer o tempo e o esforço que dedica à prática laboral, no caso do policial, que faça valer o risco. Caso contrário, não é justo.

O que consola é que a fé e a esperança são bases da existência humana. E, queira ou não, o militar é HUMANO, escondido atrás de uma farda (indumentária institucional apenas), mas é humano e também as traz em si, e são elas que os faz continuar, ainda que com todos os impedimentos. E tais virtudes fazem o militar crer que alguém, algum dia, vai ter uma luz e acordar para a sua situação e mudar tudo, para melhor. E ninguém mais vai ter razão para detestar ser da Briosa.

FONTE: SER POLICIAL É UMA ARTE

7 comentários:

Anônimo disse...

Meus parabéns ao autor deste digníssimo comentário, que traria inveja até a CASTRO ALVES!!! (Poeta dos Escravos)

Anônimo disse...

Será que se este texto fosse plublicado em vários jornais, as pessoas entederiam com eu policial entendi? acho que não, pois só sabe o que é ser policial quem é policial, falar é muito fácil, difícil é vestir a farda e não ter a certeza de que mais tarde voltará para o seio de seu lar.
Parabéns para o autor desse texto.

Anônimo disse...

Esse belo texto deveria ser fixado na quadro de avisos de todas as Unidades de polícia do Brasil. É a realidade em que vivemos.Parabéns ao autor.

Anônimo disse...

ATO EM DEFESA DA VIDA NO RIO -DIGA NÃO A TODAS AS FORMAS DE VIOLÊNCIA.

Data: 26 NOV 2010.
Horário: 16:00 horas.
Local: Cinelândia - Centro -Rio de Janeiro.
O ato será ordeiro e pacífico, um protesto cidadão contra as mortes de milhares de cidadãos fluminenses que ocorrem todos os anos no Rio, vítimas da violência urbana, que fugiu inteiramente do controle do poder público, assim como, vítimas da falência do sistema público de saúde, onde cidadãos morrem pela falta de recursos.
Todas estas mortes seriam evitáveis caso o governo cumprisse as suas atribuições e garantisse os direitos constitucionais para toda população fluminense.
A mídia noticiou que morrem no Rio oito pessoas por dia por falta de vagas no CTI e ninguém fica preso eos assassinatos ocorremem cada esquina.
É hora do povo do Rio exigir os seus direitos.

Anônimo disse...

APROVADA A APOSENTADORIA ESPECIAL PARA POLICIAIS.
SITE G1
Comissão da Câmara aprova aposentadoria especial para policiais
Projeto estabelece aposentadoria com 20 anos de atividade de risco.
Proposta será votada pelo plenário da Câmara dos Deputados.
A Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (23), por unanimidade, projeto de lei complementar que estabelece aposentadoria especial para servidores públicos da União, dos estados e dos municípios que exerçam atividades de risco.
O projeto, um substitutivo do deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), agora seguirá para o plenário da Casa.
A medida aprovada esclarece que os servidores atingidos pelas novas regras são aqueles que exercem atividades de risco na polícia, em guardas municipais, no controle prisional, carcerário ou penitenciário e na escolta de presos.
O servidor que tiver ao menos 20 anos de exercício de atividade de risco poderá se aposentar voluntariamente ao completar 30 anos de contribuição com proventos integrais e equivalentes ao da remuneração ou subsídio do cargo em que se der a aposentadoria. Para as mulheres, a regra vale para quem completar 25 anos de contribuição.
Férias, faltas justificadas, licenças e afastamentos remunerados, licenças para exercício de mandato classista e eletivo e o tempo de atividade militar serão considerados tempo de efetivo serviço em atividade de risco.
Em casos de acidente em serviço, doença profissional ou doença contagiosa, incurável e outras especificadas em lei, o servidor poderá se aposentar por invalidez permanente com proventos integrais e equivalentes ao da remuneração ou subsídio do cargo em que se der a aposentadoria.
O servidor que for acometido de doenças não especificadas em lei ou em função de acidentes não relacionados ao serviço poderá se aposentar por invalidez permanente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição em atividade de risco. A base será a última remuneração ou subsídio do cargo em que se der a aposentadoria.
O projeto também estabelece que o valor mensal da pensão por morte será equivalente ao valor da aposentadoria que o servidor recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data do falecimento.
As pensões já concedidas na data da publicação da lei terão os cálculos revisados para serem adequadas à proposta.

Anônimo disse...

APROVADA A APOSENTADORIA ESPECIAL PARA POLICIAIS.
SITE G1
Comissão da Câmara aprova aposentadoria especial para policiais
Projeto estabelece aposentadoria com 20 anos de atividade de risco.
Proposta será votada pelo plenário da Câmara dos Deputados.
A Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (23), por unanimidade, projeto de lei complementar que estabelece aposentadoria especial para servidores públicos da União, dos estados e dos municípios que exerçam atividades de risco.
O projeto, um substitutivo do deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), agora seguirá para o plenário da Casa.
A medida aprovada esclarece que os servidores atingidos pelas novas regras são aqueles que exercem atividades de risco na polícia, em guardas municipais, no controle prisional, carcerário ou penitenciário e na escolta de presos.
O servidor que tiver ao menos 20 anos de exercício de atividade de risco poderá se aposentar voluntariamente ao completar 30 anos de contribuição com proventos integrais e equivalentes ao da remuneração ou subsídio do cargo em que se der a aposentadoria. Para as mulheres, a regra vale para quem completar 25 anos de contribuição.
Férias, faltas justificadas, licenças e afastamentos remunerados, licenças para exercício de mandato classista e eletivo e o tempo de atividade militar serão considerados tempo de efetivo serviço em atividade de risco.
Em casos de acidente em serviço, doença profissional ou doença contagiosa, incurável e outras especificadas em lei, o servidor poderá se aposentar por invalidez permanente com proventos integrais e equivalentes ao da remuneração ou subsídio do cargo em que se der a aposentadoria.
O servidor que for acometido de doenças não especificadas em lei ou em função de acidentes não relacionados ao serviço poderá se aposentar por invalidez permanente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição em atividade de risco. A base será a última remuneração ou subsídio do cargo em que se der a aposentadoria.
O projeto também estabelece que o valor mensal da pensão por morte será equivalente ao valor da aposentadoria que o servidor recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data do falecimento.
As pensões já concedidas na data da publicação da lei terão os cálculos revisados para serem adequadas à proposta.

João Adad disse...

Olha,quero mesmo,parabenizar o autor deste comentário,que retrata de forma objetiva,contundente e vivencia o sofrimento de uma classe tão excluida e desrespeitada.Que no entanto nos dá a medida exata da sua capacidade e vocação,parabens irmão,vc foi genial na esplanação