sábado, 25 de outubro de 2008

O MELHOR PARA O RIO!

Fernando Gabeira 43
Escritor, jornalista e deputado federal do Rio, nascido em 1941, é mineiro de Juiz de Fora e carioca por opção desde 1963. É pai de duas filhas: Tâmi e Maya. Destacou-se como jornalista, logo no início da carreira, na função de redator do Jornal do Brasil, onde trabalhou de 1964 a 1968. Os colegas de redação diziam que o estilo marcante dos textos de Gabeira podia ser reconhecido até em bilhetes. No final dos anos 60, ingressou na luta armada contra a ditadura militar. Em 1969, participou do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, a ação mais radical da guerrilha contra o regime autoritário. Foi baleado, preso e, mais tarde, exilado, numa operação que envolveu a troca de presos políticos pelo embaixador da Alemanha, também sequestrado pela guerrilha. Em dez anos de exílio, esteve em vários países. Testemunhou no Chile, em 1973, o golpe militar que derrubou Salvador Allende. Mais tarde, retrataria a queda e o assassinato de Allende em roteiro para a TV sueca. Na Suécia, país onde viveu mais tempo durante o exílio, exerceu desde o jornalismo, principalmente na Rádio Suécia, até a função de condutor de metrô, em Estocolmo. Na passagem pela Itália, em meados dos anos 70, participou do tribunal Bertrand Russel, que investigou os crimes da ditadura brasileira. Com a Anistia, voltou ao Brasil no final de 1979, quando lançou o best seller O que é isso, companheiro?, obra que se tornou referência da história da resistência contra a ditadura militar no Brasil. Transformado em filme pelo cineasta Bruno Barreto, O que é isso, companheiro? ganhou as telas brasileiras em 1997. Nos anos seguintes, Gabeira dedicou-se a uma intensa produção literária, construindo as primeiras análises críticas da luta armada e impulsionando no Brasil temas como as liberdades individuais e a ecologia. Livros como O crepúsculo do macho, Entradas e bandeiras, Hóspede da utopia, Nós que amávamos tanto a revolução e Vida alternativa apontaram novos horizontes no campo das mentalidades e colocaram na berlinda uma série de velhos conceitos da vida brasileira. Em 1985, voltou a ser preso no Rio, numa sess‹o "pirata" do filme "Je vous salue, Marie", censurado pelo Governo Sarney. Desta vez, a prisão foi breve. Nessa época, Gabeira já liderava o nascente movimento ecológico e pacifista que daria origem ao Partido Verde, fundado por um grupo de ecologistas, artistas e intelectuais. Em 1986, candidatou-se ao governo do estado pelo PV (em coligação com o PT) e realizou uma campanha de características transformadoras. Revirou o debate político com temas como qualidade de vida, desenvolvimento sustentável, liberdades individuais (e coletivas), direitos das minorias e democratização das comunicações. Foi considerado o vencedor do principal debate entre os candidatos na TV. A campanha de Gabeira para governador inaugurou também uma nova forma de militância política. Os tradicionais comícios e passeatas, sisudos e cinzentos, ganharam uma nova estética com cores, performances, prazer e arte. Dois momentos culminantes: a passeata Fala, mulher, que coloriu a avenida Rio Branco de rosa e a cobriu de flores; e o Abraço à Lagoa, em que milhares e milhares de pessoas deram-se as mãos em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, produzindo um dos momentos de maior força simbólica e plástica da cena politica brasileira. Um marco na relação da população urbana com o meio ambiente, o Abraço ˆ Lagoa criou uma nova instituição entre as manifestações públicas, originando uma série de outros abraços a instituiçõeses, empresas, espaços urbanos e patrimônios ambientais. Nos anos seguintes, Gabeira manteve simultaneamente suas atuações como jornalista, escritor e principal líder do PV, partido que já assumia uma dimens‹o nacional. Em 1987, cobriu em Goiânia o acidente radioativo com o césio 137, reportagem que gerou seu décimo livro, Goiânia, Rua 57 - O nuclear na Terra do Sol. Sua atuação política e jornalística _ trabalhando para os jornais O Dia e Folha de S. Paulo e para a TV Bandeirantes _ foi marcante em diversos outros fatos importantes da vida nacional, particularmente os ligados à questão ambiental, como a investigação do assassinato de Chico Mendes, a interdição da usina nuclear de Angra I por problemas de segurança e o encontro mundial dos povos indígenas em Altamira (PA). Em 1988, lançou o livro Greenpeace: Verde guerrilha da paz, uma reportagem-ensaio que apresentou ao Brasil a filosofia e os bastidores da maior organização ecologista do mundo. Gabeira iniciou a década de 90 como correspondente da Folha de S. Paulo em Berlim, após uma candidatura alternativa à presidência da República, em 1989. Viveu dois anos na Alemanha, onde cobriu o day after da queda do Muro de Berlim e os primeiros movimentos da maior transformação política mundial dos últimos tempos. Na volta ao Brasil, prosseguiu seu trabalho de repórter especial nos jornais Folha de S. Paulo e Zero Hora. Em 1994, elegeu-se deputado federal pelo Partido Verde. Como parlamentar, é conhecido pela defesa do meio ambiente, das minorias e pela luta intransigente contra a corrupção. Foi reeleito em 1998 e 2002. Em 2003, rompeu com o PT por discordar das práticas do partido no governo e no Congresso. Em 2006, foi o deputado federal mais votado do Estado do Rio de Janeiro, com 293.057 votos. Diz a cientista política Lúcia Hippolito que Gabeira "representa a face mais avançada da esquerda mundial, que não nega a modernidade, não rejeita o mercado nem a globalização e ao mesmo tempo defende as minorias. Ele não ficou embolorado naquela esquerda ultrapassada, albanesa". Segundo a revista Veja, Gabeira é um "guerrilheiro da lucidez, a materialização das utopias possíveis".